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OPINIÃO: Os craqueiros, a maconha e o SUS

A quem interessar possa: só aqui em Santa Maria, nas duas Varas de Família, foram sequestrados, ano passado, do Estado do Rio Grande do Sul e do município de Santa Maria, por ordem judicial, R$ 1.502.365,62. Vou repetir, agora por extenso, para que gravem bem o numeral na memória: um milhão, quinhentos e dois mil, trezentos e sessenta e cinco reais e sessenta e dois centavos. Dinheiro sacado na boca do caixa do Banrisul aqui do Fórum, sem muito papo ou cerimônia. Uma grana federal, para ninguém botar defeito, principalmente os professores e policiais, servidores públicos que ocupam o pedestal da pirâmide remuneratória do Estado.

Boa parte do bloqueio judicial desses valores derivou da seguinte situação: como existem vicejando por aí mais dependentes químicos viciados em crack do que leitos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os pais recorrem ao Judiciário para que o juiz determine a internação do filho. Para ontem, se possível, já que o moço está quebrando tudo em casa, e até as janelas de metal viraram moeda de troca para obtenção da "pedra". Fico com muita pena e entendo perfeitamente o drama dos familiares, que lutam com todas as armas possíveis e imagináveis para salvar o filho de um vício impiedoso, sendo também compreensível a pressão que metem no juiz para que resolva logo o problema.

Com a bomba no colo, só resta ao magistrado tentar desativá-la. Intimados os entes públicos a fornecer o leito, de acordo com o regramento vigente, replicam não ter mais de onde tirar. Assim, a única forma encontrada por mim e pelos colegas da área é a internação em clínicas particulares, que cobram, em média, R$ 4 mil ao mês. Quanto ao tempo de tratamento, nem para Deus adianta indagar...O Rio Grande do Sul tem 164 comarcas, sendo que cada uma pode abranger um ou mais municípios. Algumas maiores e a grande maioria menor que Santa Maria. Pode-se imaginar, sem muita dificuldade de raciocínio, o caminhão de dinheiro que está sendo bloqueado toda semana para hospitalização dos viciados. E aqui também não vai nenhuma crítica às clínicas particulares, pois apenas desempenham a sua atividade precípua, e ainda bem que elas estão disponíveis para esse tipo de atendimento, substituindo o SUS na provisão dos leitos.

Onde quero chegar? É simples: liberado oficialmente o consumo da maconha - de fato, já está há horas! -, só se o sujeito for um debiloide para presumir que essas internações vão diminuir. Crescerão, vertiginosamente. É tudo uma questão lógica, racional e, agora, numérica. Claro que os vigilantes defensores da liberação da maconha perguntarão, mesmo sabendo de antemão a resposta: algum maconheiro foi internado? Nenhum. Tá bem, mas agora é a minha vez de perguntar: algum internado iniciou o vício direto no crack? A resposta é exatamente a mesma: nenhum.

Todos, sem uma única exceção, começaram na maconha, que foi e sempre será o abre-alas do despenhadeiro. Mas, pensando bem, nem sei por que estou falando essas coisas aqui, pois não há motivo para tanto alarmismo. Um Estado rico que nem o nosso, com a dívida pública zerada, educadores e policiais recebendo um salário digno e em dia, a violência nas ruas sob controle e postos de saúde com médicos suficientes, pode perfeitamente se dar ao desfrute de não se importar com essa dinheirama que sai a rodo do seu cofre. Se o atilado leitor achar que estou sendo sarcástico em alguma parte da presente informação, acertou na tampa. Na minha idade, não tem muita escolha: é a ironia ou o infarto agudo!

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